Não sou poetisa
Tenho de reconhecer que não sou poetisa. A minha “veia” não é suficientemente poética… Navegando nesta arte expressiva a que chamamos poesia, constato invariavelmente que a minha escrita é demasiado ingénua, demasiado “terra-a-terra”. Talvez por isso me tenha habituado a chamar-lhe pseudopoesia.
Cheguei a participar em alguns concursos de poesia, até que me rendi às evidências e desisti
Durante esse processo encontrei muitos poemas transbordantes de imagens e analogias surpreendentes, que tornavam os meus ainda mais simplistas.
Como poderia eu competir contra versos como…
Luís Aguiar, in "Quantas Madrugadas Precisamos Para Fermentar Um Pão?"
Admiro imenso quem tem esta capacidade de se exprimir por metáforas cheias de ritmo, criando versos ricos em recursos estilísticos que soam tão bem que nos embalam durante a leitura.
Infelizmente, quando chego ao fim do poema já me esqueci do que me diziam os seus versos.
Não me ficam sentimentos para me recordar deles. Não os compreendo e, por não compreender, não me transmitem coisa alguma.
Sei que o “problema” está em mim. Eu é que não tenho a capacidade imaginativa necessária para entender o significado de
“Amor, o sol ainda é um fruto vermelho / que amadureceu o barro de que é feito o meu corpo – / carne antiga despida de centauros / e resina de campos embriagados por aves solares.”
Assim, tal como não tenho capacidade para o entender, também não tenho imaginação para o escrever.
Não, definitivamente nunca serei poetisa, sou demasiado simplista e assertiva na minha escrita. Os meus versos são demasiado claros, límpidos. Não conseguirei dizer coisas complexas e musicais como “aconchego de palha e sal” ou “oração sem mãos”.
As minhas mãos não “comem” nem “bebem”, apenas escrevem, sentem, gelam, estremecem… São demasiado naturalistas para serem mãos de uma poetisa.
Admito, prefiro poemas que falem comigo. Que conversem com o meu íntimo, fazendo-me sorrir ou chorar, permitindo-me recordar o que senti quando os li.
Alberto Caeiro diz, em “A espantosa realidade das coisas”:
Eu nem sequer sou poeta: vejo.
Se o que escrevo tem valor, não sou eu que o tenho:
O valor está ali, nos meus versos.
Tudo isso é absolutamente independente da minha vontade.
Como o compreendo! No meu caso seria:
Eu não sou poetisa: sinto.
Se o que escrevo tem valor
É porque escrevo o que sinto:
O valor está na verdade dos meus versos
Porque o que sinto é absolutamente independente da minha vontade.
Os poemas de Alberto Caeiro conversam sempre comigo, por isso o aprecio de forma muito especial: