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Um pássaro sem poiso

Palavras soltas, livres, voando por aí

Um pássaro sem poiso

Palavras soltas, livres, voando por aí

30.01.20

Sofremos porquê?


Isa Nascimento

Sofremos porque interpretamos.

Sem interpretação não haveria sofrimento. Mas não é humanamente possível não interpretar aquilo que percecionamos. A única coisa que podemos fazer é (tentar) controlar o impacto que as vivências têm sobre nós.

Esta tarefa é árdua e difícil, pois o processo interpretação->emoção acontece no nosso cérebro de forma automática e inconsciente, como se não o pudéssemos controlar.

Mas podemos. Se pouco podemos fazer em relação aos acontecimentos externos, como, por exemplo, os acidentes e os problemas das pessoas que amamos, podemos, efetivamente, intervir sobre o seu impacto em nós.

É possível escolher não nos deixarmos afetar por algo a um nível que nos impeça de viver “normalmente”, que condicione irreversivelmente a nossa felicidade.

Este processo de “digestão” e “assimilação” dos eventos da vida não é, simplesmente, arrumá-los na gaveta. Tem etapas de análise, compreensão, relativização e aceitação que, por vezes, demoram anos a cruzar a meta.

Contudo, se nos dispusermos a isso, o tempo cura mesmo (quase) tudo.

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28.01.20

Em viagem


Isa Nascimento

Gosto de andar de comboio.

Pela janela vejo o filme da minha vida

Relances de casas antigas e presentes

Instantâneos de fábricas outrora grandes

Letreiros gigantes, enferrujados

Antes cheios de esplendor

Agora agarrados a edifícios igualmente decadentes.

 

É cedo, mas há já quem corra à beira dos campos

Amantes de tracking e ciclismo

Gente madrugadora

Que cumprimenta o dia ainda antes de ser dia

Campos verdejantes e salinas

Canaviais a encobrir as povoações

Os rios cheios que refletem a luz que desponta.

 

Gosto de andar de comboio.

Especialmente quando viajo só.

Antecipo a celebração do reencontro

Com aqueles que me aguardam

Ansiosos, no fim da linha.

Enquanto espero que as horas passem

E o gigante cavalo de ferro avança,

Entretenho-me a olhar o céu

A procurar por entre as nuvens

Os pedaços de azul imaculado

Incólume às marcas do tempo

Recipiente de todos os sonhos

Panteão que abriga todas as almas.

 

Vejo os pinhais envolvidos p’la neblina

Encobrindo a vegetação e os animais

Mostrando-se misteriosos e tentadores.

Chamam por mim as almas penadas

Deambulando entre os pinheiros

Clamando por misericórdia

Rogando pelo dia da ascensão

Que libertará a sua alma

Do mundo terreno, frio e sem cor

Onde estão prisioneiras.

 

Já o disse, é certo, mas não é demais repetir

O quanto gosto de andar de comboio.

Do reencontro comigo, da introspeção

Da oportunidade de divagar

Ou de aquietar a mente

Se algo que vejo da janela me sobressalta a alma.

 

Se dormisse, como quase todos os restantes companheiros de viagem

As horas passariam mais depressa

Mas levariam com elas a ocasião única

De olhar pela janela e, a cada momento,

Ver algo novo.

Não haveria nada para recordar

Nem saborearia a satisfação do avanço

Avanço do comboio

Avanço da vida

Avanço da viagem que se faz todos os dias

Enquanto os fardos de feno aguardam

Enrolados, nos prados.

 

O meu comboio não deveria parar,

Mas para, e até isso me diverte

Porque na minha vida também parei

Quando não devia, mas tinha de ser.

E a cada vez que recomecei, foi com novo vigor

Ainda que às vezes lentamente

Sem pressas, como o meu comboio

Porque já não tenho vagar para pressas.

 

Setembro de 2018

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22.01.20

Noite de luz


Isa Nascimento

Um dia roubarei as estrelas do céu

Farei um colar com elas

Para me iluminarem o caminho

Talvez assim me não sinta

Tão perdida por não te ter aqui

 

Mas se roubasse as estrelas à noite

Apagar-se-ia o firmamento

E com ele se extinguiriam

As paixões dos poetas

E a fé dos profetas

 

Num mundo às escuras

Toda eu feita luz

Não chegaria para consolar os vivos

Quando choram os seus mortos

Nem para reconfortar as viúvas

Quando num leito frio e vazio se deitam

 

Afinal, talvez não roube as estrelas

Talvez viaje para junto delas

Aconchegando-me no seu calor

E do espaço celeste te possa ver

E ser o teu farol

 

Maio de 2018

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20.01.20

Atormentar os outros espelha...


Isa Nascimento

Eu acredito que aqueles que gostam de maltratar os outros e abusam do seu poder para lhes infernizar a vida não passam de seres infelizes.

Quem se sente bem com a sua vida não tem necessidade de rebaixar os outros.

Por isso, quando uma dessas pessoas tenta fazer com que eu me sinta mal, lembro-me sempre disso. Sorrio e desejo que consiga voltar a ser feliz, para que se quebre o círculo vicioso da inveja que sente (ainda que inconscientemente) da felicidade das pessoas com quem interage e que contamina as suas ações.

(Confesso que, antes deste processo de racionalização, praguejo em silêncio qualquer coisa pouco bonita…) 

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