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Um pássaro sem poiso

Palavras soltas, livres, voando por aí

Um pássaro sem poiso

Palavras soltas, livres, voando por aí

08.01.20

Getting tired


Isa Nascimento

Not knowing where you want to be        

Nor who you want to be with

Knowing that you want to go

But not when you want to leave

Feeling stupid and ashamed one day

To rejoice proudly the day after

Misunderstanding and doubting

Being only sure of your incompleteness

That makes you search up and down

For something

Or someone

For the unknown

Running from the known fact that

It might be getting too late

And that

You are getting too tired

Too helpless to be rescued

Too bitter to trust

Incapable of starting over

Worthless

Weak

Resigned

Ready to quit

 

Novembro de 2016

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07.01.20

A vida (não) é simples


Isa Nascimento

Já vi e ouvi várias vezes a citação “A vida é tão simples, nós é que teimamos em complicá-la”, ou algo semelhante. No entanto, apesar da frequência com que nos surge, não posso deixar de estar em completo desacordo com esta afirmação.

A vida não é simples. Nem sei se alguma vez foi. Mesmo quando o crescimento era controlado por princípios rígidos que impediam escolhas individuais de profissões, cônjuges ou locais de residência, não terá sido simples decidir entre aceitar a imposição ou rebelar-se contra ela.

Eu vejo-a mais como uma luta, uma luta de sobrevivência diária.

Viver é sobreviver a uma sequência infindável de opções que nos podem levar para onde não queremos ir.

A realidade é que somos obrigados a escolher desde muito pequenos. Primeiro é a cor do brinquedo, depois é o estilo de roupa, a escolha da área académica, aceitar ou não o pedido de namoro, casar e ter filhos ou investir apenas na carreira profissional...

Enfim, uma lista infindável de decisões que temos de ir tomando ao longo da vida e que a tornam tudo menos simples. Talvez o adjetivo correto não seja “complicada”, mas será com certeza complexa. Será simples decidir não ficar irritado quando alguém passa à nossa frente na fila do supermercado ou não ter inveja do carro novo do vizinho, mas decidir aceitar ou não uma nova proposta de emprego já não será assim tão simples, pois o impacto dessa decisão afetará várias áreas da vida.

É certo que há quem complique ainda mais a natural complexidade da vida, preocupando-se com problemas alheios e impedindo a construção da sua própria felicidade, mas não podemos dizer que é simples educar um filho, aceitar a morte de um ente querido ou ver o produto de uma vida de trabalho destruído num terramoto, incêndio ou noutra catástrofe qualquer.

Percebo que quem propaga essa citação queira deixar os demais esperançados, mais confiantes num futuro que, às vezes, parece assustador, mas acho que não passa de uma afirmação redutora daquilo que considero a mais complexa das ações: viver.

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Imagem de Points Of You

06.01.20

O relógio não para


Isa Nascimento

Um grão no areal da praia

Um dente na gigantesca roda dentada

Dentro do relógio do tempo

Um simples componente

De um todo maior

Um todo composto por cada um desses grãos

Por cada um desses dentes

 

O tempo não cessa

O relógio não para

Porque na imensidão do areal

Há um novo grão para ocupar

O lugar do que se perdeu imerso no mar

Porque o mestre relojoeiro

Constrói uma nova roda dentada

Para substituir a que estava gasta e cansada

 

Nesse contínuo se extinguem os nossos dias

Apaga-se a chama da nossa vela

E, sucessivamente, a daquela e a daqueloutra

Mas logo uma nova flama se acende

E uma nova luz ilumina a noite

Mantendo o batimento da engrenagem

A que pertencemos, todos,

Em que não somos mais

Do que um mero grão de areia

Igual a tantos outros

No areal da praia

 

Agosto de 2017

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05.01.20

Liberdade de expressão


Isa Nascimento

Quando andava na faculdade, vivi algum tempo com uma colega de curso, amiga desde o dia das matrículas do 1.º ano até hoje.

Esta minha amiga, galhofeira e bem-disposta, resolveu um dia afixar na porta da casa de banho do nosso estúdio um papel com a frase “É tão bom fazer cocó! 😊”. Esta singela folha A4 branca, com uma frase cuja veracidade ninguém se atreveu a contestar, causou as mais variadas reações, desde o sorriso franco imediato, até ao desconforto que levou alguns a sugerir que o mesmo fosse retirado daquele lugar tão exposto.

Mas, se é mesmo verdade que o alívio sentido após uma “evacuação completa”, a expressão formal para representar a dita ação fisiológica, é realmente bom, por que motivo se considera “inadequado” escrevê-lo ou dizê-lo oralmente? A explicação reside no próprio tema, as manifestações externas do nosso sistema digestivo são um tema tabu

E se este é um exemplo muito ingénuo de um tema que causa pruridos quando abordado de forma humorística, outros há bem mais polémicos, como a religião, a política, a orientação sexual, etc.

Haverá, de facto, temas sobre os quais não temos o direito de falar abertamente, conforme nos apetece? A liberdade de expressão diz que não, afirmando que qualquer um de nós tem o direito de exprimir livremente a sua opinião, quer o faça de forma verborreica ou lacónica. Não importa como o fazemos, pois todos temos o direito de expressar a nossa opinião…

Apesar de concordar com o direito à liberdade de expressão, acredito que o contexto em que o exercemos o condiciona.

“Deitar cá para fora” o que nos vai no pensamento é, na sua essência, inócuo e/ou positivo, afinal, são só palavras… Contudo, quando essas palavras se dirigem a alguém em concreto, que as “levará a título pessoal” (como qualquer um de nós levaria…), não teremos o dever, ao exercer aquele direito, de refletir sobre o nosso impacto ao proferir aquelas palavras?

Quando manifestamos as nossas opiniões através das palavras, diretamente a uma pessoa, o positivismo inerente à liberdade de expressão torna-se muito relativo.

As palavras são poderosas. Tornam-se ainda mais fortes quando emolduradas por uma expressão facial condicente e um tom de voz a combinar. Por isso se afirma que o verdadeiro poder está no “como” se diz, muito mais do que no “conteúdo” daquilo que se diz.

Se uma simples frase como aquela, afixada à porta de uma casa de banho, pode causar desconforto ou boa disposição, não é difícil imaginarmos o impacto que as nossas palavras podem ter na pessoa que nos ouve ou lê.

Já perdi a conta às vezes que disse a mim própria que “devia falar menos”, pois em muitas ocasiões, o impacto que causei foi muito diferente daquele que esperava. Infelizmente não consigo falar menos, escrever menos ou comunicar menos.

Assim, vou sendo mais rigorosa nas palavras que escolho e criteriosa nas opiniões que emito. Acima de tudo, antes de opinar, reflito sempre sobre se poderei causar desconforto ou sofrimento a alguém com aquilo que vou dizer, com algo que poderá ser meramente a minha opinião… e as opiniões são apenas e só isso, valem o que valem para cada um de nós.

Às vezes, assumir a liberdade de expressão poderá ser escolher não exercer esse direito.

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Imagem de Points Of You

03.01.20

Ao meu encontro


Isa Nascimento

Náufraga nos meus rios

À deriva sem leme

Acostando a qualquer porto

Seguro ou incerto

Cega pela neblina

Do espírito sem norte.

 

A cada paragem

Meus rios vão secando

Minhas feridas vão sarando

Encontrando-me em mim

Recuperando a minha essência

Salvando a verdade

Da minha alma

Antes desconhecida.

 

Vislumbro já o caminho

Em terra firme

Árduo e pedregoso

Que me conduzirá

Um dia

Ao equilíbrio

E à sintonia.

 

Setembro de 2016

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02.01.20

A puzzle


Isa Nascimento

I once told you I felt like a puzzle,

An incomplete puzzle

Whose missing piece was hidden somewhere.

Hidden until someone came to look for it.

Hidden until you came and found it.

Then you have decided to complete the puzzle

And to dive beyond its image.

There you have discovered a dream,

A dream you had never dreamed before,

A dream that fades away

Every time you remove that piece,

But that grows stronger

Every time you put it back in its place.

 

I was just an incomplete puzzle,

Before you decided to be the piece

That was missing among the ones I was.

 

Maio de 1990

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