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Um pássaro sem poiso

Palavras soltas, livres, voando por aí

Um pássaro sem poiso

Palavras soltas, livres, voando por aí

20.02.20

Tu em mim


Isa Nascimento

Já não há dias sem ti

Porque mesmo sem ti te carrego

Omnipresente

A cada tic-tac

A cada badalada

 

Por muitos dias

Que passem sem ti

Todos esses dias em que desejo

Não houvesses

Se rendem

Naquelas raras ocasiões

Em que enganamos o desencontro

E te impregnas um pouco mais

Cada vez mais em mim

 

Afloras à minha pele

Respiras comigo, compassados

Em uníssono

 

O halo que me envolve

Veste agora as tuas cores

Embebidas no teu cheiro

Que não passa

Mesmo nos dias sem ti

 

Novembro de 2017

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18.02.20

Olhar e não ver


Isa Nascimento

Tantas vezes olhei sem ver.

Olhei para os semáforos, para o trânsito, para as pessoas.

Olhei a fugir da chuva e do vento. Olhei a perseguir o sol… sem nunca ver os candeeiros daquela rua.

Vivo naquele bairro há quatro anos, numa zona que conheço há vinte, e nunca tinha reparado que os candeeiros do outro lado do cruzamento são diferentes dos do lado de cá.

 

Quantos outros detalhes terão também escapado ao meu olhar? Terei sido incapaz de ver algo importante, por não ter conseguido “olhar com olhos de ver”?

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16.02.20

Em cacos


Isa Nascimento

Pés de barro

Que se vão desfazendo

A cada obstáculo transposto

 

Os cacos semeados ao longo do trilho

Lembram os sonhos desfeitos

As palavras perdidas

Gritadas

Não ouvidas

 

As peças que ficaram pelo caminho

Caídas quando as mãos se apartaram

E os abraços afrouxaram

Ficaram por lá esquecidas

Num ato de criação contida

 

De coração empedernido

Prolongam-se as noites

Nas horas estéreis

Infecundas

Onde o tempo navega

Sem porto onde atracar

 

Março de 2018

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14.02.20

Amor à primeira vista | coletâneas Chiado Books


Isa Nascimento

Olá meu amor,

Hoje a saudade bateu com força à minha porta.

Ter de estar longe de ti não fazia parte dos meus planos, mas talvez tenha reavivado o que sinto, e sempre senti, por ti. Esta noite sonhei contigo e acordei a pensar nisso, a recordar o dia em que nos conhecemos. Éramos tão jovens, mas percebemos logo que estávamos destinados um ao outro. Nada, jamais, nos apartaria.

Dizem que não existe amor à primeira vista. Pois estão enganados, coitados. Poucos têm a sorte de saber que existe. Que, mesmo depois de passar a paixão, cá fica esse amor todos os dias, para sempre, como naquele primeiro dia em que nos olhámos e sentimos bem cá no fundo “quero ficar contigo, meu amor, o resto da minha vida”.

Le coup de feu, como dizem os franceses. E como estão certos. Um fogo intenso nasce de repente, propagando-se por todas as partes do nosso corpo de forma tão avassaladora que não há maior certeza. O maior desejo, o mais profundo amor, a paixão de querer alguém.

Sou uma dessas raras pessoas sortudas, pois tive o privilégio de me apaixonar por ti no primeiro momento em que ti vi, naquele dia em que os meus olhos se cruzaram com os teus, viram a tua luz e se renderam a ela.

Quis o destino, quisemos nós, que esse amor não nos fugisse. Que nos acompanhasse ao longo dos bons e maus momentos da vida. Que se visse em cada cabelo branco que nos diz que o tempo passou.

Em breve regressarei para junto de ti, pois de outra forma a vida não tem sentido. Porque quero envelhecer contigo, meu amor, continuar a rir e a chorar a teu lado, “até que a morte nos separe”.

Sei que não precisava de to dizer, que percebes na minha voz e no que não te digo quando falamos ao telefone, mas há muito que não te escrevia, e nada melhor do que o poder de uma carta de amor para avivar a chama da paixão (sei-o bem, pois ainda guardo todas as cartas que me enviaste enquanto namorámos).

Por isso te escrevo hoje, para te dizer que me deito e acordo contigo todos os dias e que serei para sempre tua.

Com amor,

Vera

 

Autor: Isa Nascimento

Texto incluído em:

III Volume da "Colectânea de Cartas de Amor: Três Quartos de Um Amor", Chiado Books. Fevereiro de 2020

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13.02.20

Bom começo


Isa Nascimento

O meu dia corre melhor sempre que começa a acompanhar este quarteto.

Um jovem pai e três filhos de tenra idade. É uma delícia vê-los. Vão sempre agarradinhos e a conversar. Os mais velhinhos sempre alegres, a andar “aos pulinhos” como só as crianças sabem fazer quando estão bem dispostas.

O pai, com uma enorme paciência, a responder às suas perguntas e a alertar para os perigos da caminhada matinal até ao infantário. 

É um reconfortante aporte de energia positiva (a quadruplicar) logo pela manhã…

Bem-haja cada dia que permite que os nossos caminhos se cruzem.

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