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Um pássaro sem poiso

Palavras soltas, livres, voando por aí

Um pássaro sem poiso

Palavras soltas, livres, voando por aí

16.06.20

Alguém vestiu uma árvore


Isa Nascimento

Não sei há quanto tempo, mas pelo estado desgastado da sua roupa, diria que já a usa há uns bons meses. Passei por ela muitas vezes sem a ver, como é normal quando andamos pelas ruas, absortos nos nossos pensamentos, provavelmente com pressa para chegar a qualquer lado.

Parece-me óbvio que a sua vestimenta nada teve a ver com os assomos de criatividade despertados pela COVID-19, mas foi graças à pandemia que vi aquela árvore, numa tarde mais ou menos soalheira em que me atrevi a ir beber café fora de casa. Peguei no meu copinho de cartão e atravessei a rua, em busca de sol, quando dei de caras com ela!

Ali estava, vaidosa e indiferente às angústias dos poucos passantes, exibindo as suas vestes feitas de quadrados de croché de lã colorida. 

Uma árvore vestida de arco-íris e tradição, que me fez regressar a casa da minha avó materna. Vi novamente os inúmeros saquinhos com novelos de lã e muitas amostras de pontos e combinações de cores onde eu adorava bisbilhotar. Recordei as várias peças de croché a cobrir as costas e os braços do sofá da sala, as almofadas, as pegas da cozinha...

Deixei-me ficar a contemplá-la enquanto saboreava o meu café, absorvendo o momento para que se impregnasse na minha memória, para que nunca me abandonasse.

Estarei sempre grata àquela árvore que tornou o meu dia especial e a quem tão originalmente a vestiu. 

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13.06.20

Ausência


Isa Nascimento

Nunca estás por perto

Quando preciso de colo

Nunca estás por perto

Quando preciso de consolo

 

Embalo-me a mim própria

Consolando-me cantarolando sozinha

Canções de embalar esquecidas

Com letras trocadas e ritmos perdidos

 

Vou-me habituando a estar sem ti

Já não preciso do teu colo

Amanso a dor e o lamento

Adormecendo sem consolo

Sem abraço, sem afago, toda vazio

 

Outubro de 2019

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08.06.20

Desafios


Isa Nascimento

Criar um blogue poderá ser desafiante, mas o verdadeiro desafio é mantê-lo ao longo dos dias e das semanas…

Outro grande desafio é também estar à altura dos reptos que nos são propostos pel@s amig@s bloguistas com quem vamos privando e criando laços tão incríveis.

 

Tive o privilégio de receber mais um desses reptos, desta vez da parte do nosso querido C.C., pelo que hoje estou por casa dele, falando de coisas especiais na sua rubrica “Uma foto… uma história!”.

Sinto-me profundamente grata por mais esta oportunidade que me foi oferecida para partilhar a minha escrita.

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04.06.20

Aceitação plena, o grande desafio


Isa Nascimento

A minha vida tem-me dado uns valentes socos na barriga. Daqueles completamente imprevisíveis, que nos fazem vergar sob a dor e a falta de ar. Daqueles que nos paralisam num primeiro momento e depois nos obrigam a reaprender a andar, lentamente, curvados com o peso das memórias e da incerteza do futuro.

Não sei se me tornei mais forte depois de cada um deles, mas sei que aprendi sempre qualquer coisa e, na maioria das vezes, para minha autodefesa, na expectativa de que o soco seguinte doesse menos.

Mas a vida é sempre muito imaginativa e tem a interminável capacidade de criar cenários inesperados, mostrando-nos que há sempre mais qualquer coisa que pode correr ainda pior e que o fundo do poço se mantém a mais um tombo de distância.

Praticamente nada no meu presente corresponde aos inúmeros futuros antecipados no passado.

A realidade levou-me por caminhos que nunca pensei percorrer e não tive outro remédio senão limitar-me a (tentar) tirar o melhor partido das partidas que me foi pregando ao longo do tempo.

Saí vencedora algumas vezes, mas noutras restou-me apenas aceitar a derrota e iniciar outra batalha.

Por isso deixei de desejar e a passei a definir apenas objetivos a curto prazo. Às vezes demoro algum tempo a digerir e a aceitar algum evento pessoal ou familiar mais difícil de relativizar, mas lá consigo reconciliar-me com ele e encontrar as melhores soluções possíveis, sendo que, em muitos casos, a solução se resume a “aceitar plenamente”, sem ira, revolta ou desapontamento, e procurar a nova janela que se abre, algures, à minha volta.

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No Eco Parque Sensorial da Pia do Urso