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Um pássaro sem poiso

Palavras soltas, livres, voando por aí

Um pássaro sem poiso

Palavras soltas, livres, voando por aí

29.08.20

O desafio 30/30 chegou ao fim… e agora?


Isa Nascimento

Por mera coincidência, ou talvez não, o desafio dos 30 poemas em 30 dias começou precisamente no dia 30 de julho.

Surgiu de repente, quase em jeito de brincadeira, porque tive de definir uma tarefa a executar diariamente, durante 30 dias seguidos, após o final de um ciclo de webinares intitulado "Quero Ser Meraqi".

Este programa de desenvolvimento pessoal tem como lema uma frase que adoro:

O melhor tempo do mundo é o que investimos a despertar o nosso potencial interior! 

Por isso, não poderia deixar de definir um objetivo desafiante, que me ajudasse realmente a despertar o meu potencial interior (fosse ele qual fosse).

Na falta de uma ideia melhor, propus-me a escrever um poema por dia, a começar logo no dia seguinte para não correr o risco de perder o ímpeto, ou seja, no dia 30 de julho.

A publicação no blogue foi a minha estratégia de autocontrolo. Assumindo publicamente o objetivo, sabia que o iria cumprir à risca. 

O que eu não sabia era o quanto me faltava descobrir do meu potencial interior.

Não fazia ideia de que tinha em mim a capacidade de encontrar a inspiração em qualquer lugar e (quase) sempre que o quisesse.

Toda a vida escrevi por impulso, por necessidade, quando as emoções se transformavam em turbilhão e precisavam de ser acalmadas, reordenadas, reorganizadas… através da escrita.

Tanto a minha pseudopoesia como os meus textos em prosa serviam de purga. A escrita era a ferramenta do meu processo catártico destinado, basicamente, a “aliviar a alma”.

Contudo, aquilo que começou como uma brincadeira veio a revelar-se um projeto transformador.

Os meus pseudopoemas transformaram-se em poemas, a minha pseudopoesia transformou-se em poesia, a minha “alma poética” ganhou asas e transformou-se no meu Estro.

Foi um processo de metamorfose: a transformação da Isa em poetisa.

Mas não cheguei lá sozinha. Sem os vossos comentários nem o vosso apoio diário, sem a partilha das vossas emoções nem a presença assídua da minha generosa companheira de viagem, esta metamorfose nunca teria acontecido.

Por isso vos deixo aqui a minha gratidão profunda.  Mimaram-me, reconfortaram-me, elogiaram-me, ajudaram-me a encontrar o meu potencial criativo. Obrigada!

Não vos nomeio porque sei que não é preciso. Vocês sabem quem são e o quanto foram importantes nesta viagem que chegou ontem ao fim.

E agora? Agora é continuar a perseguir a inspiração até a encontrar. É nunca desistir.

Prosseguir e nutrir a minha capacidade criativa. É escrever poemas regularmente, trabalhá-los, limá-los, aperfeiçoar a técnica e a disciplina que qualquer arte exige. É partilhar convosco o que escrevo, mesmo que não o possa fazer diariamente. 

Agora é tempo de me esforçar para merecer o nome de poetisa.

É preservar esta motivação poética que germinou com o vosso apoio, para que continue a florescer.

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28.08.20

30/30 | 30


Isa Nascimento

Num desafio obriguei-me a procurar por ti

Para conseguir encontrá-la a ela

Andei a catar-te, minuciosamente

Como os chimpanzés catam o pelo uns dos outros

E assim a fui descobrindo, meio envergonhada

Muitas vezes velada, quase impercetível

 

Dia após dia te busquei em meu redor

Para a alcançar a ela onde quer que estivesse

Na noite, no jardim, nos animais

Levaste-me ao encontro dela

Em qualquer hora e lugar

Mesmo onde juraria que ela não estaria

 

Nesta minha senda por ti

Preciosa inspiração

Segui por veredas e atalhos

Às vezes por florestas frondosas

Nutrindo o meu imaginário

Construindo histórias de encantar

Até que ela ao meu encontro vinha

Num sopro, num suspiro

Até nas asas de um pardalito

 

Assim laboriosamente a encontrei

No deslumbramento do quotidiano

Dos encontros fugazes entre mãos que se dão

Das flores coloridas, viçosas no jardim

Das recordações que animam a mente

Do coração que chora sem remédio

Da esperança que persiste no final de cada dia

 

Como previam as almas sábias ancestrais

Procurando a alcancei

Algures, entre o tudo e o nada

Poesia resgatada da dor e do amor

Em versos redigida por meu Estro

Poesia que fiz minha e abriguei

Num lugar sem morada

Numa alma poética libertada

Dentro de mim

 

Agosto de 2020

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27.08.20

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Isa Nascimento

Hoje fiquei em casa, só porque sim

Ainda que agosto esteja a terminar

Preferi quedar-me assim

 

Parece um desperdício ficar

Agora que os dias começam a minguar

Mas será uma falácia certamente

 

Viver torna-se mais fácil

Quando a vontade é de estar

Nesse refúgio dentro de portas

Em vez de vaguear por aí

 

Porque no ficar há silêncio

Uma tranquilidade magnânima

Que liberta as mentes aceleradas

Da necessidade de ser

 

Agosto de 2020

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26.08.20

30/30 | 28


Isa Nascimento

Olho fixamente para a linha do horizonte

Um traço cinzento, esbatido lá no fundo

Lá onde a vista alcança

E a neblina parece que dança

 

Nessa fronteira vejo uma quimera

Não sei se com cabeça de leão,

Corpo de cabra e cauda de serpente,

Se com forma de utopia deslumbrante

 

Um fio ténue que limita o mundo conhecido

Berço de ocasos cheios de esplendor

Que nutrem a paixão dos amantes

E sustentam a coragem dos navegantes

 

Um pedaço de cordel que ficou caído

Esquecido onde acaba o oceano

Ali, onde todos os sonhos dormem

E espreitam pesadelos que todos temem

 

Agosto de 2020

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24.08.20

30/30 | 26


Isa Nascimento

Reflexos

Meros reflexos do que somos

Da passagem dos dias e das horas

Do hoje que depressa passa a ontem

Num segundo, a cada meia-noite

 

Imagens

Nada mais do que imagens

Vistas num momento efémero

Que se encrusta na memória

Parecendo que dura

 

Ilusões

Simplesmente ilusões, é o que são

As imagens retidas na mente

Nesse armazém de convicções irreais

Por mais vívidas que sejam no pensamento

 

Transições

Uma sequência infinita de transições

Onde o passado e o futuro se encontram

Tocando-se naquele instante fugaz

A que chamamos presente

 

Agosto de 2020

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23.08.20

30/30 | 25


Isa Nascimento

Andar aos esses sem norte

Subir e descer num carrocel

Rodopiar até ficar tonta

 

Saltar alto a pés juntos

Pular ao pé-coxinho sem cair

Caminhar pé ante pé de madrugada

 

Correr pela estrada fora

Trepar ao cume da montanha

Contemplar o vale lá do alto

 

Mergulhar no mar sereno

Fintar as ondas revoltas

Apanhar conchinhas e sossegar

 

Brincar às escondidas

Jogar à cabra-cega

Aprender a confiar

 

Conversar pela noite dentro

Rir a bandeiras despregadas

Dormir descansada

 

Agosto de 2020

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