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Um pássaro sem poiso

Palavras soltas, livres, voando por aí

Um pássaro sem poiso

Palavras soltas, livres, voando por aí

30.09.20

Mataram a cameleira…


Isa Nascimento

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E não consigo entender porque o fizeram. 

Talvez não fosse uma árvore asseada, pois espalhava as suas folhas pelo quintal dos donos e ainda pelo dos vizinhos, mas a sua copa sempre verde era um regalo para a vista e, penso eu, proporcionava-lhes uma bela sombra.

 

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Quando estava em flor, cheia de lindas camélias rosa-choque, eu gostava de ficar à janela a admirá-la. Tirei-lhe até algumas fotografias que, infelizmente, nunca conseguiram captar toda a sua beleza.

 

Este verão deram cabo dela.

Não sei se foi de propósito ou sem querer, mas a verdade é que aquilo que pareceu uma poda exagerada revelou-se fatal para aquela preciosa cameleira.

Há dias cortaram o tronco seco e esquelético que restava. Foi melhor assim.

Prefiro olhar para o pátio descoberto do que ver aquela árvore morta todos os dias, logo de manhã, ao levantar a persiana...

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28.09.20

O presente do destino


Isa Nascimento

Atrevi-me a imaginar o meu destino

Talvez por isso me tenha castigado

Acontecendo-me de forma tão diferente

Da que me atrevera a imaginar

 

Vi-me no aconchego de um lar morno

Embalada pelo crepitar da lareira

Ao ritmo de vozes familiares

Várias, conhecidas todas, tranquilizantes

 

Casa cheia, mesa farta

Caminhando de mãos dadas ao crepúsculo

Sonhava assim os meus dias

Num futuro não muito distante

 

Ofereceu-me o destino outro presente

Um lar arrefecido de lareira extinguida

Onde a mesa está vazia

E as vozes são ecos de outrora

 

Não mais ousei desafiá-lo!

Ferverosamente desentusiasmada

Fiz prisioneira a minha imaginação

Para que ele não note

Que às vezes

Ainda

Arrisco tal atrevimento

Vendo-me ainda de mãos dadas

Passeando

Num entardecer qualquer

 

Novembro de 2017

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25.09.20

Pescador


Isa Nascimento

Um pescador solitário

pescava no meio do rio.

Ali estava, tranquilo,

no seu barquinho frágil,

indiferente aos que passavam

e aos olhos que nele poisavam.

 

Baloiçava o seu barco

na ondulação provocada

por outra embarcação,

que com ele se cruzava

nas águas partilhadas.

Mas nada o atemorizava.

 

A cabeça não levantava

Nem desviava o olhar,

Fitando o colo, os pés,

As mãos ou o convés…

Ninguém sabia,

pois tudo escondia.

 

Lá ficou descansado

no rio novamente calmo.

Cada vez mais pequenino,

de contorno indefinido,

fez lembrar um menino

brincando no tanque d’aldeia.

 

Setembro de 2020

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24.09.20

Dedicação | micronarrativa


Isa Nascimento

A mãe era costureira. Engravidara perto dos 40 anos e não queria a criança. O companheiro pediu que a deixasse vir, um dia seria quem lhe valeria, pois a sua única filha sofria de problemas mentais. Assim nasceu, vindo ao mundo para honrar o oráculo e cuidar da mãe até ao fim.

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Foto: uma das "Plêiades, Sete Irmãs", criadas por Fukuko Ando, em exposição no Museu do Oriente 

 

22.09.20

Dia Mundial da Pessoa com Doença de Alzheimer | 21 de setembro 2020


Isa Nascimento

Já passou. Já era. Assim os dias passam a ontem num ápice. 

Por vários motivos deixei passar a data... mas já tinha esta publicação preparada e não podia ficar por partilhar. Porque aquele dia já distante deixou a sua marca. Uma marca que me faz lembrar muitas vezes deste texto enquanto me esqueço de ter escrito tantos outros...

 

Hoje é um dia especial

Simplesmente porque ainda estás comigo.

Começas a perder-te no labirinto das palavras

Esqueces-te do que acabei de te dizer

Mas ainda sabes o meu nome.

Ainda sorris quando me vês

Ainda sabes que estás a abraçar a tua filha.

Sofro quando percebo que regressas à infância

Fico triste por te ver partir todos os dias um bocadinho.

Por isso estou grata pelo Presente de te ter comigo hoje

Apesar de me apetecer fugir para não ver

De me apetecer fingir que está tudo bem

De não querer acreditar.

 

Frustrada

Às vezes fico revoltada contigo

Penso que poderias ter impedido este percurso

Que não lutaste o suficiente.

Perdoa-me por me sentir assim.

Por me custar encarar-te porque já não vejo a minha mãe.

Hoje é um dia especial

Tentarei que seja especial também para ti.

 

Março de 2016

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19.09.20

É dia de caldeirada...


Isa Nascimento

Hoje foi a minha vez de preparar a Caldeirada Com Todos... no sardinhaSemlata

Trouxe para a mesa a Natalidade no século XXI. Preparei uma longa refeição, com direito a entrada e sobremesa, com esmero e empenho, mesmo sabendo que nenhum Chef consegue agradar a todos os seus comensais. 

Prepara o estômago e senta-te à mesa connosco.

 

Grata Filipe Vaz Correia,  por esta oportunidade tão preciosa de partilha da minha escrita na tua rubrica semanal. Espero ter conseguido honrar o teu convite. 

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