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Um pássaro sem poiso

Palavras soltas, livres, voando por aí

Um pássaro sem poiso

Palavras soltas, livres, voando por aí

26.11.20

Será que Deus nos abandonou?


Isa Nascimento

A propósito do meu pseudopoema de ontem, um amigo que acompanha o meu blogue de perto e tem a gentileza de me doar algum do seu tempo, o bem mais precioso que podemos oferecer aos outros, despoletou nesta minha mente inquieta e irrequieta uma reflexão que extravasou o espaço de uma resposta a um comentário.

Ganhou asas e voou, reclamando o seu próprio lugar…

 

Se Deus existisse, estaríamos agora mergulhados nesta pandemia, em pleno século XXI?

A espiral autodestrutiva que a humanidade vive não significa que Deus nos abandonou?

 

Ninguém sabe ao certo como o nosso mundo se formou. A Terra e os seres vivos que a habitam são um milagre do acaso.

Deus nada teve a ver com isso.

Tudo é energia em interação contínua.

 

Penso que se faz muita confusão entre a entidade energética superior a que normalmente chamamos Deus (o nome é pouco importante), e as várias religiões que se desenvolveram entre os Humanos ao longo da sua existência, essencialmente pela necessidade intrinsecamente humana de encontrar uma explicação para tudo, que nos leva até a “inventar” o que está para lá daquilo que, de facto, conhecemos.

 

Eu não creio na existência de um Deus-Homem, que julga, escolhe, favorece, absolve, salva ou abandona... que é justo ou injusto, preferindo uns em detrimento de outros.

Seria quase um Pai Natal… mas este também não existe. 

 

Os seres humanos são como todos os animais à face da Terra, nascem aleatoriamente num local qualquer, têm mais ou menos sorte com os atributos físicos e cognitivos que lhes calham e têm de lutar para sobreviver, a níveis diferentes dependendo desses acasos todos que condicionam a sua existência terrena.

Mas a nossa inteligência permitiu-nos conseguir controlar muito do ambiente hostil que é a natureza. Evoluímos nesse controlo de tal forma que temos agora uma gigantesca soberba, assente no conhecimento objetivo, científico ou tecnológico por um lado, e nas diversas religiões por outro.

Assim, é quase uma blasfémia afirmar que somos tão animais como os nossos animais de estimação (também eles têm de ter sorte com a família que lhes calha e o país onde nascem…).

Contudo, negar esta realidade não resolve nada, apenas agrava as consequências dessa nossa “gigantesca soberba” que nos leva a destruir a nossa própria casa, o nosso maravilhoso Planeta Azul, porque achamos que o nosso direito a ela é superior ao de todos os outros seres vivos que usamos e manipulamos para construir abrigos ou produzir alimentos.

 

Tal como qualquer outro ser vivo deste planeta, nascemos, sobrevivemos e morremos.

A diferença está na forma como “sobrevivemos”.

Se nada podemos fazer para determinar o começo da nossa vida, há muito que está ao nosso alcance a partir do momento em que nos tornamos autónomos.

Também aqui, Deus em nada intervém.

A sorte e o sucesso costumam dar muito trabalho, mas continua a haver muita gente crente que Deus lhos trará algum dia, entre as suas orações e súplicas.

Mas cada um tem o direito de acreditar no que entender, por isso adoro aquela frase do "vamos concordar em discordar"...

Assim, a minha Fé e o meu Deus são simplesmente aquilo que representam para mim.

São o tudo e o nada.

São a energia limpa, positiva e luminosa que se encontra na natureza, no amor, na amizade, na gratidão, na partilha.

São a força da aceitação dos acasos da vida que nos permite avançar apesar dos problemas, ou com eles às costas.

Estão naquela "uma ou outra pessoa em fundo" na minha imagem de ontem, onde há também uma criança a brincar, vivendo o presente o melhor que conseguem.

Estão nas memórias dos nossos antepassados que nos orientam e guiam, passando a sua sabedoria de geração em geração.

São o poder da “generosidade resiliente” que teima em persistir até nas sociedades mais perturbadas e violentas.

São o vigor das palavras gentis, dos pensamentos positivos, dos sorrisos generosos.

Estão na opção de ver o bem que ainda resiste, de o nutrir para que sobreviva em vez de alimentar a vitimização e a injustiça do mundo.

Fé e Deus estão em mim, mas apenas porque faço parte deste maravilhoso mundo onde tudo é energia, tudo circula, tudo se dá e recebe.

Alimentam e fortalecem a minha vibração energética. São o meu motor e o meu guia.

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25.11.20


Isa Nascimento

Acredito em Deus

Atrevo-me até a dizer que SEI que existe

Sinto-o por aí

Na brisa amena do verão

Nos ventos gélidos do inverno

 

Vejo-o ao meu lado

Nas flores da primavera

Nas folhas que caem no outono

 

Consola-me este Deus que oiço

Nas gargalhadas inocentes das crianças

E quando os pássaros cantam

 

Conforta-me por não me julgar

Por guardar os meus segredos

Por me ensinar a confiar

 

Está nos meus versos

Derramado nas minhas lágrimas

Disperso pelos meus sonhos

 

É a poesia que gostava de escrever

Os filhos que vejo crescer

A generosidade resiliente

D’uma humanidade decadente

Onde o bem ainda persiste

 

Outubro de 2017

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20.11.20

Imagens fugazes


Isa Nascimento

Há coisas invisíveis aos olhos(1). Esta frase não está completa nem é minha… mas tem estado no meu pensamento desde ontem, quando a minha câmara viu coisas que eu não consegui ver a olho nu.

Como a minha mente desassossega com facilidade, tenho de a apaziguar de alguma forma. Às vezes a ocupação física ajuda, outras nem por isso. Acaba por chegar o momento em que as palavras têm de ser vertidas para uma folha, analógica ou digital, dando asas a essa ação da escrita que é já sinónimo da minha essência.

 

Há coisas que só as fotografias veem.

Aparecem, aparentemente do nada, ou tornam-se mais nítidas e percetíveis.

Há coisas que só são vistas no momento certo.

Aparecem num momento inesperado, mas exatamente quando precisamos de as ver.

Há coisas, muitas, que escapam ao nosso controlo.

Chegam e partem quando bem entendem, deixando um pouco delas, levando um pouco de nós(2)

 

1. "Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos."; O Principezinho, de Antoine de Saint-Exupéry

2. "Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós.."; Antoine de Saint-Exupéry

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17.11.20

Sem sentido


Isa Nascimento

Não sei o que quero

Nem quem quero

 

Vivo num desassossego

De entranhas às voltas

Sentimentos dúbios

Desejos indefinidos

 

Por muito que pense

Reflita ou relativize

O cenário permanece cinzento

De cortinas meio corridas

Deixando ver meio palco apenas

Ocultando personagens

Desfocando ambientes

Relegando rostos e expressões

Alimentando a minha imaginação

Que trabalha sem cessar

Para lhes dar um sentido

E descobrir o caminho

 

Maio de 2020

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12.11.20

De passagem


Isa Nascimento

Temos uma enorme tendência para nos agarrarmos a algo… a alguém, ao trabalho, ao desporto, a qualquer coisa…

E quase sempre procuramos algo para nos agarrarmos fora de nós. É quase como um náufrago à procura de algum destroço no meio do mar que o ajude a aguentar-se até conseguir chegar a terra firme.

Mas nada do que está fora de nós é garantido ou sempre seguro.

As “coisas” e as pessoas passam pelas vidas umas das outras como sombras, umas vezes estão lá, no momento a seguir já não.

 

A âncora mais forte estará fundeada dentro de nós.

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05.11.20

Inverno


Isa Nascimento

Cheira a terra molhada

A almas penadas

Chorando baixinho

Como a morrinha que vai caindo

 

Cheira a bafio

A vidas presas por um fio

Olhando o céu cinéreo

Em busca de salvação

 

Cheira à comiseração

De mil atos de contrição

Aprisionados nas folhas húmidas

Das árvores que se agitam, nervosas

 

Cheira a arrependimentos

O mais vão dos sentimentos

Das gentes que seguem dormentes

Fitando o chão sem ver o caminho

 

Agosto de 2020

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