Será que Deus nos abandonou?
A propósito do meu pseudopoema de ontem, um amigo que acompanha o meu blogue de perto e tem a gentileza de me doar algum do seu tempo, o bem mais precioso que podemos oferecer aos outros, despoletou nesta minha mente inquieta e irrequieta uma reflexão que extravasou o espaço de uma resposta a um comentário.
Ganhou asas e voou, reclamando o seu próprio lugar…
Se Deus existisse, estaríamos agora mergulhados nesta pandemia, em pleno século XXI?
A espiral autodestrutiva que a humanidade vive não significa que Deus nos abandonou?
Ninguém sabe ao certo como o nosso mundo se formou. A Terra e os seres vivos que a habitam são um milagre do acaso.
Deus nada teve a ver com isso.
Tudo é energia em interação contínua.
Penso que se faz muita confusão entre a entidade energética superior a que normalmente chamamos Deus (o nome é pouco importante), e as várias religiões que se desenvolveram entre os Humanos ao longo da sua existência, essencialmente pela necessidade intrinsecamente humana de encontrar uma explicação para tudo, que nos leva até a “inventar” o que está para lá daquilo que, de facto, conhecemos.
Eu não creio na existência de um Deus-Homem, que julga, escolhe, favorece, absolve, salva ou abandona... que é justo ou injusto, preferindo uns em detrimento de outros.
Seria quase um Pai Natal… mas este também não existe.
Os seres humanos são como todos os animais à face da Terra, nascem aleatoriamente num local qualquer, têm mais ou menos sorte com os atributos físicos e cognitivos que lhes calham e têm de lutar para sobreviver, a níveis diferentes dependendo desses acasos todos que condicionam a sua existência terrena.
Mas a nossa inteligência permitiu-nos conseguir controlar muito do ambiente hostil que é a natureza. Evoluímos nesse controlo de tal forma que temos agora uma gigantesca soberba, assente no conhecimento objetivo, científico ou tecnológico por um lado, e nas diversas religiões por outro.
Assim, é quase uma blasfémia afirmar que somos tão animais como os nossos animais de estimação (também eles têm de ter sorte com a família que lhes calha e o país onde nascem…).
Contudo, negar esta realidade não resolve nada, apenas agrava as consequências dessa nossa “gigantesca soberba” que nos leva a destruir a nossa própria casa, o nosso maravilhoso Planeta Azul, porque achamos que o nosso direito a ela é superior ao de todos os outros seres vivos que usamos e manipulamos para construir abrigos ou produzir alimentos.
Tal como qualquer outro ser vivo deste planeta, nascemos, sobrevivemos e morremos.
A diferença está na forma como “sobrevivemos”.
Se nada podemos fazer para determinar o começo da nossa vida, há muito que está ao nosso alcance a partir do momento em que nos tornamos autónomos.
Também aqui, Deus em nada intervém.
A sorte e o sucesso costumam dar muito trabalho, mas continua a haver muita gente crente que Deus lhos trará algum dia, entre as suas orações e súplicas.
Mas cada um tem o direito de acreditar no que entender, por isso adoro aquela frase do "vamos concordar em discordar"...
Assim, a minha Fé e o meu Deus são simplesmente aquilo que representam para mim.
São o tudo e o nada.
São a energia limpa, positiva e luminosa que se encontra na natureza, no amor, na amizade, na gratidão, na partilha.
São a força da aceitação dos acasos da vida que nos permite avançar apesar dos problemas, ou com eles às costas.
Estão naquela "uma ou outra pessoa em fundo" na minha imagem de ontem, onde há também uma criança a brincar, vivendo o presente o melhor que conseguem.
Estão nas memórias dos nossos antepassados que nos orientam e guiam, passando a sua sabedoria de geração em geração.
São o poder da “generosidade resiliente” que teima em persistir até nas sociedades mais perturbadas e violentas.
São o vigor das palavras gentis, dos pensamentos positivos, dos sorrisos generosos.
Estão na opção de ver o bem que ainda resiste, de o nutrir para que sobreviva em vez de alimentar a vitimização e a injustiça do mundo.
Fé e Deus estão em mim, mas apenas porque faço parte deste maravilhoso mundo onde tudo é energia, tudo circula, tudo se dá e recebe.
Alimentam e fortalecem a minha vibração energética. São o meu motor e o meu guia.