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Um pássaro sem poiso

Palavras soltas, livres, voando por aí

Um pássaro sem poiso

Palavras soltas, livres, voando por aí

26.03.21

Invisível


Isa Nascimento

É tão fácil pisar a flor à beira do caminho

Enquanto praguejamos contra as pedras

Que nos dificultam a jornada

 

Nem a vemos, cegos, no alto da nossa soberba

Indiferentes à sua delicada existência

Que tanto nos pode ensinar

 

Poucos são os que olham o chão que pisam

Preferindo deixar-se levar sem ver por onde

Aliviando assim o peso da consciência

E o fardo da responsabilidade descartada

 

Poucos são os que param para a apreciar

Rendendo-se ao seu encanto frágil

Protegendo-a do desprezo e do desdém

Tantas vezes dedicado às pequenas flores da vida

 

Outubro de 2020

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21.03.21

Dia Mundial da Poesia | 21 de março 2021


Isa Nascimento

Sem palavras

 

Quando as palavras me faltam

Sei que estou perdida

Quando nem as palavras me valem

Sei que estou à deriva

 

O que posso eu fazer

Quando nem as palavras me acodem?

De boca silenciada e caneta poisada

Nada mais me resta

Apenas palavras apagadas

 

Palavras gastas de tanto repetidas

Palavras vazias de tão insuficientes

Onde não cabe este tanto que vai cá dentro

Onde já nem sei como ser gente

Por não ter palavras suficientes

 

Quando as palavras se vão

Ficam vazias as minhas mãos

Em branco o meu caderno

Sem socorro o meu pensamento

 

Sem as palavras pouco fica

Um coração cheio de nada

Numa campa sem lápide

 

Fevereiro de 2021

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20.03.21

Primavera


Isa Nascimento

Sentei-me na chapa quente

dos degraus das escadas das traseiras.

Cheio de vigor, o sol exuberante

aparecia por cima dos telhados

ao som do sino que tocava as dez badaladas.

 

Num quintal ao lado,

uma árvore vestida de branco

mostrava-se orgulhosamente pura

no meio de um matagal de ervas daninhas

que reclamavam todo o espaço para si.

 

Logo ao lado, o cão do pátio ladrilhado

agitava-se inquieto, pedindo para sair.

Largava toda a sua energia contida

ladrando ao avião que passava,

sem conseguir calar-se

nem quando o silêncio ao céu regressava.

 

Depois dos dias de chuva inebriante,

que deixara a natureza viçosa e fresca,

pronta para receber mais uma primavera,

o musgo trepava pelas paredes

e a nespereira alcançava um pouco mais.

 

Tanto verde havia em meu redor,

refletindo os raios do sol caloroso

que abraçava o dia e as escadarias,

também elas verdes como a esperança

impregnada naquela árvore florida,

que recomeçava o ciclo da vida.

 

Fevereiro de 2021

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