Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Um pássaro sem poiso

Palavras soltas, livres, voando por aí

Um pássaro sem poiso

Palavras soltas, livres, voando por aí

26.04.21

Desapego | coletâneas Chiado Books


Isa Nascimento

Presa ao ventre materno nasci

Com violência dele me apartei

Num corpo frágil engrandeci

Porém nunca me libertei

 

Prendi-me à vida de mulher

Às regras, às obrigações e ao dever

Escondi as lágrimas por pudor

Por vergonha calei a minha dor

 

Cortei as asas por já não saber voar

Presa fiquei, esquecida de sonhar

Apegada à ilusão

Sem querer largar-te a mão

 

Cega vivi no descontentamento

De olhar fixo no firmamento

Apagando o sorriso franco

Deixando as páginas em branco

 

Uma noite as estrelas se extinguiram

Escurecendo os tempos que se seguiram

Já nem a lua me alumiava

Num infindo enredo me emaranhava

 

Um dia os nós resolvi desatar

E comecei por tua mão largar

Nesse dia minhas asas resgatei

No desapego, leve, voei

 

Autor: Isa Nascimento

Texto incluído em:

II Volume da "Antologia da Poesia Livre: Liberdade", Chiado Books. Abril de 2021

Chiado_Liberdade_2021_final.png

 

23.04.21

Dia Mundial do Livro | 23 de abril 2021


Isa Nascimento

“Para onde vai essa criatividade toda?”, perguntaram-me um dia. “Para a escrita, adoro escrever.”, respondi eu.
Um escape, uma fuga, um processo de catarse…

"Devias escrever um livro..." também já ouvi uma mão cheia de vezes 
Contudo, nunca foi realmente para escrever um livro. Tem sido essencialmente o meu devaneio escondido. 

Na verdade, a minha escrita só começou a ser partilhada a 16/10/2019, data da primeira publicação no Um pássaro sem poiso.

O meu blogue, que se tornou o meu refúgio.

E continua a servir acima de tudo para organizar as minhas ideias e manter a mente sã, sem outros objetivos por trás.

Mas, eis que chega um novo Dia Mundial do Livro.
Mais uma vez me lembrei daquela trilogia de objetivos de vida: Ter um filho, plantar uma árvore e escrever um livro…

Tive dois, plantei uma, não escrevi nenhum. 

Porque será que é tão atrativa e desejada a publicação de um livro?

É claro que também penso nisso de vez em quando. É uma ideia demasiado aliciante para nunca pensar nela.

Um dia afirmo que o farei. Nos restantes digo que não. Penso que seria apenas mais um livro entre muitos que nunca deveriam ter sido publicados, servindo a sua publicação apenas para deleite do Ego. Desagrada-me profundamente a ideia de ter um livro publicado sem que ninguém deseje comprá-lo... 

Adoro demasiado os livros. Não imagino a vida sem eles. São o pilar da transmissão de conhecimentos e uma fonte inesgotável de contentamento.

O meu seria um desses? Provavelmente não. O mais certo é que servisse apenas para gastar papel... e eu detesto desperdício.

20190224_105716.jpg

 

21.04.21

Conto de fadas


Isa Nascimento

Sentada, sozinha, numa esplanada

Escrevo o meu conto de fadas

 

Há uma princesa irresistível

Rapidamente desejada

Por um belo príncipe encantado

Que tudo fará para a libertar

Da solitária fria e escura

Onde se encontra aprisionada

 

Condenada à solidão, vida após vida,

Alma reencarnada com o mesmo destino

Tenta agora alcançar uma mão

Que a puxe daquele silêncio gelado

Onde foi deixada quando nasceu

 

Procuro um final feliz para a história da minha princesa

Dando-lhe uma fada madrinha bondosa

Que transforma as cadeiras em tufos de flores

E as mesas em espelhos de água

Onde nadam as beatas feitas peixes dourados

 

Nesse jardim assim sonhado

Há luz e paz

E um príncipe encantado

Que dança com ela ao canto do rouxinol

E lhe segreda ao ouvido que nunca mais estará só

 

Um avião ruge no céu

Ecoando como um trovão

Desmanchando o sonho

Calando a promessa

 

Agosto de 2018

20200524_104745.jpg

No Jardim da Fundação Calouste Gulbenkian

08.04.21

Numa folha de papel


Isa Nascimento

Cabe tudo numa folha em branco

Os sonhos da humanidade

Uma flor singela

 

Letras, palavras, frases

Construindo crenças

Contando histórias

Desvendando segredos

 

Não sei, às vezes, como enchê-la

Fito-a, alva, imaculada

Antes de a ferir

Com o traço da caneta

 

Vacilo, na dúvida

Buscando a inspiração

Do poeta por amor enlouquecido

 

Nesta folha ainda incólume

Minha alma se espelha

Derramando-se na tinta

Subjugada por meu punho

 

E folha a folha me construo

Página a página me revelo

Transferindo-me linha a linha

Esperando caber nela

 

Setembro de 2017

20200912_172310.jpg

 

04.04.21

Tudo são convenções


Isa Nascimento

É domingo de Páscoa, temos de reunir a família, comer à farta um bom assado, oferecer e receber chocolates e amêndoas...

Se tivermos tempo, recordaremos que há um tal de Jesus Cristo por trás disto tudo, que terá morrido e ressuscitado para salvar a humanidade, para nos mostrar que são as nossas ações que nos tornam boas pessoas e não os nossos bens ou o nosso aspeto.

Mas tudo isto são convenções. 

Hoje é um domingo como outro qualquer para os que vivem sós, para os que vivem longe, para os que não têm dinheiro para pagar a renda, quanto mais o cabrito e os chocolates.

Só a mensagem de Jesus Cristo, acreditando ou não na sua existência, sendo ou não cristão, se aplica a todos e está ao alcance de todos.

A forma como tratamos os outros é o que realmente importa, hoje e todos os dias.

Que seja um dia colorido e doce, porque é primavera e a doçura está nas nossas ações. 

20210404_094304.jpg

 

Pág. 1/2