Aos 55 anos fechou os olhos pela última vez. Lutou 10 anos para adiar esse dia, sem queixume e com enorme resiliência. Ninguém saberá o que lhe ia na mente e nunca partilhou. Já nem conseguia responder a um sms. Fiquei a questionar-me… será que prolongamos a vida ou o sofrimento?

Completam-se hoje 25 anos desde um evento marcante que mudou para sempre a minha vida.

Um evento que parece que aconteceu ontem, porque sinto que passou num ápice...

No entanto, há momentos em que esse remoto ano de 1996 parece tão longínquo por terem sido tantos os obstáculos pelo caminho. 

Nada de novo. Toda a gente sente isto em relação a algo. É a tão famosa "relatividade" ou a confirmação de que tudo é uma questão de perspetiva.

Na verdade, nada disso importa.

É o caminho percorrido que nos torna a pessoa que somos hoje. 

Se gostamos da pessoa que somos hoje, não podemos lamentar o caminho.

A hera que se transformou em árvore...

No início da primavera publiquei no Instagram um pensamento que me vem à mente muitas vezes:

Se existir realmente perfeição, estará na natureza.

Na verdade, não importa muito se a natureza é ou não perfeita, pois é sempre maravilhosa e extraordinariamente resiliente.

Mas precisa de mais carinho e atenção da humanidade.

É urgente que cuidemos dela todos os dias, até que se torne um hábito tão normal que o Dia Mundial do Ambiente deixe de fazer sentido.

No edificado em ruínas do Santuário de Nossa Senhora do Cabo Espichel

Se tiver coragem irei andar de baloiço

Lembrando-me de como é bom ser criança

Sem vergonhas nem embaraços

Berrando ao vento

Se tiver alento passarei a noite ao relento

Desenhando as constelações na noite

Imperfeitas e inacabadas

Como sonhos sonhados de olhos abertos

Se a ousadia não me abandonar

Ficarei à conversa com a coruja dos bosques

Deixando-me embalar pelo canto dos grilos

Monótono e reconfortante

E se o ânimo não me faltar

Saltarei do baloiço no seu ponto mais alto

E acreditarei ter asas e voar

Desenjaulada e sem medo

Maio de 2018