Entardecer assim na vida.
Tranquilamente.
Em harmonia.
De fora para dentro.
Sem deixar que o exterior afete o interior em demasia.
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Entardecer assim na vida.
Tranquilamente.
Em harmonia.
De fora para dentro.
Sem deixar que o exterior afete o interior em demasia.
Já se vê o crepúsculo
Sente-se a sua humidade cinzenta
De choro e sofrimento
Levando consigo os dias especiais.
Já não há dias especiais.
Já não sabes os nossos nomes
Nem tampouco os nomes das coisas.
Garfos, facas, colheres tornaram-se uma amálgama
Um monte de objetos apenas
Sem utilidade clara ou evidente.
Por vezes é visível que sofres
Quando percebes que já não sabes,
Que já não lembras ou já esqueceste.
Nessas vezes gosto de te dar um beijo
Para te reconfortar
Para te encontrar dentro de ti,
E de te abraçar quando sorris
Nos pequenos momentos
Em que partilhas o teu presente connosco.
Mas chegaram os dias que te apagam,
Em que te sentes ofendida e agredida
Numa existência paralela à nossa.
Desejas até fugir dessa vida que te dói,
Dói realmente porque te aconteceu
Num desses dias em que não nos cruzámos contigo,
Nessa tua vida escondida
Que se vai esgueirando sem darmos conta
Enchendo-te de outra história
E de outra pessoa
Usurpando a nossa mãe
Remodelando-a até não a reconhecermos
Até não nos conhecer.
Junho de 2016
Em modo zombie
Robótico
Afugentando os buracos negros da mente
Como os espantalhos espantam os pardais das searas
Náuseas, azia, enjoos
Todos os sinais das tripas
Alertando para o perigo adiante
Tornam a marcha vacilante
Envenenando de dúvidas o pensamento
Enchendo de incertezas a decisão
Qual decisão? Por onde anda ela?
Embrulhada, algures, no estômago que se revolve
Subindo e descendo na crista das ondas
Ondulando ao vento, pelo vento, contra o vento
Nas asas de um pássaro ferido
Perdido
Que a leva para parte incerta
Em modo morto-vivo
Maquinal
De tez franzida e olhos cerrados
Segue, perscrutante, às apalpadelas
Em vão procurando por ela
Junho de 2020
O filho não estudou, enveredou por consumos destrutivos e meteu-se com más companhias. Irresponsável, acabou por ficar desempregado com pouco mais de 30 anos. Infernizou a vida à mãe até que um ataque cardíaco o levou. No funeral, a mãe confessaria: “Deus fez o que estava certo”.