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Um pássaro sem poiso

Palavras soltas, livres, voando por aí

Um pássaro sem poiso

Palavras soltas, livres, voando por aí

20.01.22

Espera | coletâneas Chiado Books


Isa Nascimento

“Acredito em anjos” diz uma conhecida canção

Que toca no meu antigo radiogravador.

“Tenho um sonho”, acrescenta.

“Eu também”, dou comigo a pensar,

Mas já não acredito em anjos.

 

Doem-me os olhos, dói-me a cabeça

Das lágrimas contidas por cansaço,

Para não me deixar ir mais uma vez,

Mais uma vez levada pela tua dor

Pela tua descrença e desesperança.

 

Chamei por eles muitas vezes

Rogando-lhes que te guiassem.

Mas eles não vieram…

Era esse o sonho que alimentava,

Que pudesses ver-te como te veem os anjos.

 

Nesse sonho vias-te mais além,

De fora para dentro resgatavas o sorriso

Que outrora foi teu e te iluminava

Esses lindos olhos negros brilhantes

Que agora desejam não mais abrir.

 

Abandonei-me ao ritmo gentil da melodia

Procurando pelos anjos novamente.

Perguntando-me até quando…?

Até quando o sonho sobreviverá?

Até quando aguentarei esperar por eles?

 

Autor: Isa Nascimento

Texto incluído em:

XIII Volume da "Antologia de Poesia Portuguesa Contemporânea: Entre o Sono e o Sonho”, Chiado Books. Dezembro de 2021

Chiado_Entre o Sono e o Sonho_2021

06.01.22

Nasceu no Dia de Reis


Isa Nascimento

Era o dia do seu aniversário.

Ou seria Dia de Reis? 

Os dois eventos acabavam sempre por ser misturar promiscuamente, contra a sua vontade, e não havia nada a fazer.

Ainda só contava 23 anos de vida e já estava cansada da exclamação “que engraçado, fazes anos no Dia de Reis!”.

Não tinha graça nenhuma! Toda a vida teria de partilhar o SEU dia com três supostos reis mundialmente conhecidos que lhe roubavam todo o protagonismo possível no dia do seu próprio aniversário.

Também costumavam dizer-lhe que seria pior se fosse espanhola, pois receberia apenas um presente que valeria pelo Natal e pelo aniversário. Ao menos em Portugal sempre recebia dois presentes e faziam-se duas festas.

Contudo, continuava a ser mais o dia do fim do Natal do que o dia de começo de mais um ano da sua jovem existência. Além disso, a 6 de janeiro já estava toda a gente farta de comer e cansada de celebrar, pelo que a sua festa era sempre modesta em pessoas e iguarias.

E por muito que antecipasse a surpresa do SEU bolo, já sabia que seria, quase de certeza, um bolo-rei acrescido de velinhas e sparklers a faiscar… Era uma sorte gostar de bolo-rei…

Apesar de tudo, restava-lhe uma consolação.

Era ela quem encerrava “as festas”. No SEU dia de aniversário dizia-se “adeus, até para o ano” a mais um Natal. Desmanchava-se a árvore e arrumavam-se as luzes.

Sentia-se como se tivesse derrotado o Natal ao encaixotar os Reis Magos e o resto do presépio. Era uma questão de honra fazê-lo logo a seguir ao jantar.

No final do dia do seu aniversário, a protagonista era sempre ela e SÓ ela! 

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Grata, Isabel Silva, por me motivares a escrever. Sem o teu "empurrão" para Os nossos contos de Natal 2021, esta pequena história não teria nascido,