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Não sei se chego
Nem sei se parto
Não sei se me conheço
Ou se me desconheço
Não fico nem vou
Se lembro ou esqueço
Avanço ou espero
Quero ou não quero
Tudo isto e nada disto
Uns dias sim
Muitos dias não
Nuns dias luto
Noutros tantos rendo-me
Não sei se paro, porque já chega
Ou se avanço,
Só para não desistir
Novembro de 2019
Dizem que as capicuas dão sorte. 
Não contente com isso, ainda lhe juntei um arco-íris! 
Assim não há como falhar. Se não for para mim, que seja para todas as crianças que nascerem hoje.
A cada novo dia começa uma nova travessia.
A cada nova travessia temos novas oportunidades de escolha.
Toda eu sou convulsão
Um espasmo contraído
Sem dó nem perdão
Toda eu sou fome
Devorada por um sentir sem fim
Oca, como um poço disforme
Toda eu sou impaciência
Uma revolta há muito sem causa
Sem terra, sem consciência
Toda eu sou nada
E desse nada pari tudo
Agosto de 2021
Tu és o mar navegante
Eu sou a terra que te abriga.
Sempre que partes
Marinheiro errante
Levas-me nas ondas
E na brisa do mar.
Rogo às gaivotas
Que te guiem
E te tragam de regresso
A este porto seguro
Onde te espero
E que é teu.
Junho de 2016
Entre o ser e o estar
O ter e o dar
Entre o que te faz seguir ou ficar
Sorrir ou chorar
Entre o que te leva a largar ou a prender
A sonhar ou a empreender
Entre o que queres lembrar ou esquecer
Confessar ou esconder
Desafio supremo esse
O de viver sem desejar
Entre o acordar e o adormecer
Outubro de 2021
Parecem de papel
As suas folhas recortadas
De púrpura pintadas
Frágeis e delicadas
Pequenas flores num copo d’água
Ainda viçosas e exuberantes
Contentes
Indiferentes à vida que passa
São de seda
As suas pétalas bicolores
Contrastantes
No tufo verde
Um buquê em miniatura
Que na palma da mão caberia
Leve
Como um punhado de sonhos roubados
Dezembro de 2020
