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Um pássaro sem poiso

Palavras soltas, livres, voando por aí

Um pássaro sem poiso

Palavras soltas, livres, voando por aí

24.03.23

Vamos espalhar a Primavera | 1/10


Isa Nascimento

Graças ao desafio do Sapo Blogs, cheguei à conclusão de que tenho carradas de fotografias de flores!

E quando começo a vê-las fico indecisa sobre qual escolher.

Assim, para que nenhuma das minhas flores se melindre, fiz um álbum de homenagem à primavera no qual reuni algumas das mais bonitas.

Começo pelo "mal me quer, bem me quer, muito, pouco ou nada..."

Beige Brown Aesthetic Welcome Spring Photo Collage  A4 Document - 1

21.03.23

Dia Mundial da Poesia | 21 de março 2023


Isa Nascimento

Em tempos achei que o que escrevo de nada valia

Só porque não rimo

Por não saber usar metáforas de significado velado

Ou imagética surreal

Que nos leva para outros mundos

 

Em tempos achei feio o que escrevo

Por ser nu e cru como o tempo que passa

Mas não sei escrever de outra forma

Nem há palavras belas que me saiam do punho

Porque mal as vejo lá fora

Nem as sinto cá dentro

E se não as vejo nem as sinto

Nem na imaginação as encontro

 

Assim seguirão feios os meus versos

Brutos como o calendário que não para

Sem outro valor para além daquele que lhes dão

As palavras simples que contêm

 

Outubro de 2021

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20.03.23

Quisera...


Isa Nascimento

"Quisera", gosto desta palavra

Redonda, poética.

Que encerra em si todos

os desejos do mundo

os amores impossíveis

os versos nunca escritos.

 

Quisera eu não ter nasido

de alma inquieta

e mente interrogativa.

 

Quisera eu não ser mulher

nem mãe solitária

nem companheira desatentida.

 

Quisera eu ter outra terra

outro mundo onde suspirar

sem erros a lamentar.

 

Quisera eu uma Primavera eterna

permanentemente verdejante

sem folhas caídas nem frutos apodrecidos.

 

Uma primavera suavemente perfumada

de equilíbrio entre as cores

sem desgostos de amor.

 

Março de 2023

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19.03.23

Pai 13 vezes


Isa Nascimento

Dizem que ser avô é ser pai pela segunda vez.

Se o meu pai tem quatro filhos e nove netos, então é pai 13 vezes!

E não anda muito longe da realidade.

Deu biberão, mudou a fralda e deu banho aos quatro filhos e aos nove netos. Muitas vezes!

 

Ainda hoje, já com 79 anos, vai buscar um dos netos à escola, leva outro (e os respetivos colegas) ao basquetebol, faz canjinha para um dos mais velhos, dá boleia e jantar até aos amigos dos netos.

Compra guloseimas e aperitivos para todos eles e ainda vai ver os espetáculos da tuna da neta artista, até à uma hora da manhã!

Sempre com alegria e orgulho.

Já era assim com os filhos (menos as guloseimas e os aperitivos). Tudo o que fez por e para nós foi sempre com dedicação, altruísmo e sem uma ponta de cobrança.

 

O meu pai é um homem extraordinário. Foi enfermeiro por paixão e empregado bancário por necessidade (para poder deixar os turnos).

Vive sozinho e ninguém o ouve queixar-se por isso.

Vai às compras, cozinha, lava e estende a roupa, passa a ferro, tira os borbotos às camisolas e até passaja os buraquinhos das meias e das T-shirts.

(A imagem mostra um desses buraquinhos passajados numa T-shirt de um dos netos.)

 

Anda sempre asseado e de barba feita.

Faz alongamentos todos os dias de manhã.

Muitas vezes esquecemo-nos da idade que já tem, pois o tempo parece não passar por ele.

Dizem que está sempre na mesma.

E ele, com um sorriso de orelha a orelha, começa a contar todas as suas tarefas diárias que o arrancam de casa e do sofá, trazendo-lhe propósito e alegria de viver.

O meu pai sempre foi um homem diferente dos da sua geração, e hoje, mais do que nunca, sinto-me profundamente grata por me ter calhado esse homem como pai.

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03.03.23

Por um acaso, todas vestidas de preto


Isa Nascimento

Hoje regressei à minha juventude graças a três mulheres, que viajavam sós e sérias.

Tão seriamente seguiam que só vestiam de preto. Dos pés à cabeça. Botas, malas e casacos incluídos. 

Tive uma fase assim, entre os meus 16 e 19 anos, mas não me recordo de ter chegado a tal extremo. Tenho ideia de atenuar um pouco a escuridão com uns cinzentos à mistura.

Já nem me recordo bem dos motivos por detrás dessa predileção. Seria moda, certamente. Talvez alguma irreverência à mistura, mas sei que hoje dificilmente voltaria a vestir-me assim.

Ainda que continue a adorar roupa preta! 

Por isso fiquei a interrogar-me sobre o que levaria três mulheres, já não tão jovens assim, a vestirem-se totalmente de preto.

Ficaria a imaginação a trabalhar, movida por um acaso que levou uma mulher vestida de preto a sentar-se ao lado de outra mulher vestida de negro. Seguido de outro acaso que fez sentar uma terceira mulher vestida de breu no lugar que a segunda deixara vago.

A primeira saiu por fim, continuando séria. E lá ficou a terceira, sozinha, puxando o cachecol preto para cima, deixando à vista pouco mais do que um rosto envolto em negrume. 

Alinhamento - 1

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