Nos últimos anos tenho vindo a usar cada vez menos roupa que preciso de passar a ferro. Chego a não usar uma determinada peça de que gosto só para não ter de a passar a ferro depois.
Há uns bons meses atrás contrariei esse impulso e usei uma série de camisas e blusas.
Acumulei-as e passei a ferro tudo de uma assentada.
Enquanto o fazia, senti o gosto de ver o tecido a alisar, o cheiro do tecido amaciado pelo vapor e o prazer de ver a peça "engomada" pendurada no seu cabide, novamente pronta a ser vestida.
Lembrei-me da minha mãe e do brio com que tratava a roupa, desde o simples pano de limpar a loiça ao vestido mais delicado.
Quando será que deixámos de valorizar o cuidar da nossa roupa?
Bem sei que vivemos a correr e que o tempo gasto a passar a ferro é um desperdício...
Será mesmo?
Gosto de usar blusas e camisas. Será que cuidar das peças de vestuário que me fazem sentir bem tem menos valor do que ir ao ginásio? Ou ir ao cabeleireiro?
Ir ao ginásio implica esforço físico e gasto de tempo, tal como passar a ferro.
Ir ao cabeleireiro não implica esforço físico, mas não deixa de ser um tempo gasto essencialmente para melhorar o nosso aspeto, tal como passar a ferro.
Três atividades destinadas a cuidar de nós de formas diferentes, mas uma delas é cada vez mais desvalorizada e considerada um verdadeiro frete.
Ninguém pode ir ao ginásio ou ao cabeleireiro por nós, mas alguém pode passar a nossa roupa a ferro. Por isso pagamos a quem nos passe a roupa, porque temos coisas mais importantes em que gastar o nosso tempo.
Eu cá não vou ao ginásio nem ao cabeleireiro, e até posso evitar usar algumas peças por precisarem desse cuidado, mas não consigo mandar a minha roupa para uma engomadoria. Prefiro continuar a ser eu a passá-la a ferro...
...porque ninguém passa a minha roupa melhor do que eu!
E enquanto o faço vejo televisão.