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Um pássaro sem poiso

Palavras soltas, livres, voando por aí

Um pássaro sem poiso

Palavras soltas, livres, voando por aí

22.12.23

O relógio


Isa Nascimento

Um dia, o relógio parou.

Estava cansado.

Tantos dias havia contado

Que já lhes tinha perdido a conta,

E nunca o tempo

Por ali havia parado.

Passara sempre fugaz, em silêncio,

Esgueirando-se logo de seguida,

Calado.

 

Sempre quisera conhecer o tempo.

Contava os segundos que corriam,

Reunindo os minutos mais serenos

Para então construir as horas,

Vagarosas nalguns dias,

Noutros fugidias,

Sem nunca perder nenhuma.

Era importante esse rigor

Para que o tempo passasse certo.

 

Lá no alto, o relógio laborara,

Atento, tomando conta do tempo.

Somara dias às semanas,

Adicionara meses aos anos,

Vendo as flores desabrochar na primavera,

O verão cheio de crianças no jardim,

As aves que partiam no outono

E a neve que chegava no inverno.

As estações sucediam-se,

Ano após ano, mas nunca se distraíra.

Existia para contar o tempo,

E era essencial contá-lo bem.

 

Mas era inútil, pensou o relógio

Naquele dia em que parou.

O tempo nunca pararia por ali.

Passaria eternamente

Sem se deter por um momento,

Pois, para isso o tempo

Nunca teria tempo

E o dele havia esgotado.

 

Fevereiro de 2021

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18.12.23

N-A-T-A-L


Isa Nascimento

– Mãe, porque é que o Natal se chama Natal?

– Não sei filho, mas posso inventar…

Um grande sorriso se rasgou no rosto da criança. 

– Inventa mãe, gosto muito de quando inventas histórias para mim.

A mãe devolveu-lhe o sorriso.

– Então, filhote, chama-se Natal porque representa o Nascimento do menino Jesus. Já viste que começam pela mesma letra?

– Pois é… nunca me tinha apercebido disso.

– E também porque é Amor. Não há Natal sem amor nem compaixão. Jesus veio ao mundo para nos encher os corações de amor.

– É por isso que damos presentes no Natal, mamã?

– Sim, damos presentes às pessoas que amamos. Depois vem o «t» que é de Todos. O Natal é de todos nós. Todas as pessoas, em todas as partes do mundo, podem celebrar o nascimento de Jesus.

– Agora há outro «a»… é de amor a dobrar, mãe? No Natal parece que as pessoas se amam mais…

– É verdade querido, assim parece, mas o segundo «a» é de Alegria. É a alegria do Natal que ilumina os nossos lares e anima as reuniões familiares. Consegues imaginar um Natal sem alegria?

– Claro que não mãe! Só de pensar no teus coscorões já estou com vontade de pular! Mas ainda falta o «l». Porque é que Natal termina em «l»?

– Porque é a primeira letra de Liberdade. A mãe disse-te que todas as pessoas podem celebrar o nascimento de Jesus, porém, não são obrigadas a fazê-lo. Se o nascimento do menino Jesus não for importante para elas, não há mal nenhum. Não festejam o Natal e pronto!

– Então há pessoas que não gostam do Natal?

O menino sentiu a tristeza chegar ao seu coraçãozinho... 

– Podem não gostar de festejar o Natal ou não acreditar em Deus. Podem estar tristes demais para apreciarem o Natal. Podem viver num país em que é proibido ser cristão. Podem simplesmente não querer celebrar o Natal. E está tudo bem. Cada um é livre de viver os dias 24 e 25 de dezembro como quiser e como fizer sentido para si. Não há formas certas ou erradas de os viver.

A mãe abraçou o filho demoradamente.

– Então é por isso que em casa da Djamila não se celebra o Natal! Sabes mãe, achava isso muito estranho, mas agora compreendo. Para a família dela, o menino Jesus nunca existiu. Mas não faz mal, porque eu posso continuar a tê-lo no meu presépio. E a Djamila até gosta de o ver quando vem cá a casa estudar comigo! 

– É isso mesmo filho, havendo Amor, Todos podemos viver em Alegria e Liberdade a época de Natal.

Nascimento

Amor

Todos

Alegria

Liberdade

Alinhamento - 2