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Procurei por ele em vão, dias a fio
Fugiu-me pelas quelhas escuras da madrugada
Escondendo-se nos bares da cidade
Indecifrável nos rostos anónimos
Perscrutei depois o céu
Perguntando por ele às nuvens
Teria trepado às árvores atrás do esquilos
Ou encontrado conforto num ninho abandonado?
Responderam-me que há muito o não viam
Que talvez tivesse voado nas asas de uma gaivota
E mergulhado no cristalino mar turquesa
Em busca de afago das gentis sereias
Fui então procurá-lo à praia
Mas também aí não se encontrava
Nem no marulhar brando das ondas
Nem entre os dedos das mãos dadas
Quiçá o encontraria nas terras verdes
Onde o ar é mais puro e o vento conversa com a floresta
Abrigado sob um tronco vergado pelo cansaço
Ou desfrutando de uma nesga de sol fugidia
Agosto de 2020