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Dizem que a noite é boa conselheira.
Por isso saí para caminhar,
Numa noite amena de verão.
Lá fui, em busca de conselho
Procurando a lua para conversar.
Em vão procurei por ela
No breu salpicado de estrelas.
Por onde andaria não sei
Mas comigo não quis falar.
Fui então ao lago
Ver se os peixes ainda bailavam.
Mas os peixes já dormiam
Embalados pelo farfalhar das folhas ao vento.
Encontrei somente as rãs de guarda
Coaxando para me afugentar.
Perscrutei ainda as copas das árvores
Vislumbrando um melro ao longe.
Mas logo voou para outro poiso
Por não ser bom a aconselhar.
No silêncio da escuridão me quedei
Contemplando a quietude noturna.
Escutei então das vozes sem rosto
Um segredo contado em surdina:
O passado é nada e o futuro é vago,
tudo se dá e recebe no presente,
precioso e brilhante como as luzes no lago.
Agosto de 2020