Dia Mundial da Pessoa com Doença de Alzheimer | 21 de setembro 2021
Já se vê o crepúsculo
Sente-se a sua humidade cinzenta
De choro e sofrimento
Levando consigo os dias especiais.
Já não há dias especiais.
Já não sabes os nossos nomes
Nem tampouco os nomes das coisas.
Garfos, facas, colheres tornaram-se uma amálgama
Um monte de objetos apenas
Sem utilidade clara ou evidente.
Por vezes é visível que sofres
Quando percebes que já não sabes,
Que já não lembras ou já esqueceste.
Nessas vezes gosto de te dar um beijo
Para te reconfortar
Para te encontrar dentro de ti,
E de te abraçar quando sorris
Nos pequenos momentos
Em que partilhas o teu presente connosco.
Mas chegaram os dias que te apagam,
Em que te sentes ofendida e agredida
Numa existência paralela à nossa.
Desejas até fugir dessa vida que te dói,
Dói realmente porque te aconteceu
Num desses dias em que não nos cruzámos contigo,
Nessa tua vida escondida
Que se vai esgueirando sem darmos conta
Enchendo-te de outra história
E de outra pessoa
Usurpando a nossa mãe
Remodelando-a até não a reconhecermos
Até não nos conhecer.
Junho de 2016