Ilações em tempo de quarentena | coletâneas Chiado Books
Neste tempo de recolhimento, um termo que prefiro ao “isolamento” ou ao “confinamento” por convidar à reflexão, sinto-me uma privilegiada e grata por isso. Tenho teto e trabalho. Uma família unida e saúde. Um local próximo para caminhar mantendo o distanciamento social enquanto apanho sol e oiço os pássaros a cantar.
Sinto também um ar “estranho” à minha volta, como se estivesse a viver um sonho, ou num sonho. Não é só medo. É a frustração global perante um futuro incerto e imprevisível.
Na minha memória, desta época ficará a sensação generalizada da nossa pequenez e impotência perante uma ameaça invisível que parece ter vindo para ficar. Teremos de aprender a viver com ela e, acima de tudo, a não repetir os erros que a lançaram sobre nós.
Esta nova doença não é um castigo de Deus nem uma revolta da Natureza, é apenas uma consequência dos nossos abusos sobre o planeta Terra. Não podemos continuar a invadir os espaços a que não temos direito e que são vitais para a preservação da fauna e da flora. Não podemos continuar a explorar até à exaustão os recursos naturais.
A história da humanidade diz-nos que ultrapassaremos as dificuldades e construiremos uma nova realidade. Mas é importante que essa realidade seja mais equilibrada e sustentável. A segurança da nossa espécie exige um maior respeito pela Natureza. A nossa saúde depende da saúde do planeta Terra.
Que a quarentena nos possa trazer maior sensatez!
Autor: Isa Nascimento
Texto incluído em:
Coletânea "Quarentena - Memórias de um país confinado", Chiado Books. Agosto de 2020