(In)certezas | coletâneas Chiado Books
Cedo soube que te amava
Não foi à primeira vista
(talvez porque já não o permitíssemos aos nossos corações sofridos)
Mas foi veloz
Depressa to disse
(precisava de to dizer, mesmo sabendo que não mo devolverias)
«Amo-te»
E tu sorriste, respondendo
«Eu também»
Um dia escrevi-te uma carta de amor
(disseras-me que nunca tinhas recebido uma carta de amor)
Escrevi-ta no Dia de S. Valentim
Bem foleira, como convém a uma primeira carta de amor
E tu guardaste-a sobre a tua mesinha de cabeceira
Onde a pudesses ver todos os dias
Nesse dia tive a certeza do significado do teu
«Eu também»
Quando falo (sei que falo muito)
Tu escutas-me, pacientemente
Quando sou tempestade
Dás-me a mão para que não voe para longe
E esperas por mim
Por muito tempo que a tormenta dure
Às vezes volto cansada
Porque o meu regresso vem cheio de dor
E desejo não mais voltar
Duvidando do meu amor por ti
E do teu imerso em silêncios
E muitos dias de hesitação assim passaram
Ensombrando-me o coração e o pensamento
Até àquele outro dia que quase nos apartava
Um dia que já findava quando quis levar-te com ele
Contigo nos meus braços
Eu a pensar que te perdia
Agarrei-me a ti com força
Como uma criança ao seu balão
Não deixei que partisses com aquele ocaso
Obrigando o destino a fazer-me a vontade
Porque me amas
E eu também
Autor: Isa Nascimento
Texto incluído em:
IV Volume da "Colectânea de Cartas de Amor: Três Quartos de Um Amor", Chiado Books. Fevereiro de 2024