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Um pássaro sem poiso

Palavras soltas, livres, voando por aí

Um pássaro sem poiso

Palavras soltas, livres, voando por aí

26.02.24

(In)certezas | coletâneas Chiado Books


Isa Nascimento

Cedo soube que te amava

Não foi à primeira vista

(talvez porque já não o permitíssemos aos nossos corações sofridos)

Mas foi veloz

 

Depressa to disse

(precisava de to dizer, mesmo sabendo que não mo devolverias)

«Amo-te»

E tu sorriste, respondendo

«Eu também»

 

Um dia escrevi-te uma carta de amor

(disseras-me que nunca tinhas recebido uma carta de amor)

Escrevi-ta no Dia de S. Valentim

Bem foleira, como convém a uma primeira carta de amor

E tu guardaste-a sobre a tua mesinha de cabeceira

Onde a pudesses ver todos os dias

Nesse dia tive a certeza do significado do teu

«Eu também»

 

Quando falo (sei que falo muito)

Tu escutas-me, pacientemente

Quando sou tempestade

Dás-me a mão para que não voe para longe

E esperas por mim

Por muito tempo que a tormenta dure

 

Às vezes volto cansada

Porque o meu regresso vem cheio de dor

E desejo não mais voltar

Duvidando do meu amor por ti

E do teu imerso em silêncios

 

E muitos dias de hesitação assim passaram

Ensombrando-me o coração e o pensamento

Até àquele outro dia que quase nos apartava

Um dia que já findava quando quis levar-te com ele

 

Contigo nos meus braços

Eu a pensar que te perdia

Agarrei-me a ti com força

Como uma criança ao seu balão

Não deixei que partisses com aquele ocaso

Obrigando o destino a fazer-me a vontade

Porque me amas

E eu também

 

Autor: Isa Nascimento

Texto incluído em:

IV Volume da "Colectânea de Cartas de Amor: Três Quartos de Um Amor", Chiado Books. Fevereiro de 2024

Chiado_Três quartos de um amor_2024

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