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Um pássaro sem poiso

Palavras soltas, livres, voando por aí

Um pássaro sem poiso

Palavras soltas, livres, voando por aí

10.12.19

Já não há dia da família


Isa Nascimento

Hoje soube que o estúdio de yoga vai encerrar na semana de Natal. A professora comunicou-o com algum receio na voz, como se estivesse a pedir desculpas pelo facto.

Comentei que não me chocava, que achava bem esse intervalo numa semana em que o descanso e o tempo em família é tão importante.

 

A este propósito pensei na quantidade de pessoas que trabalham arduamente nesta época para alimentar o consumismo desenfreado que cria engarrafamentos fora da hora de ponta e leva ao prolongamento do já extenso período de funcionamento das superfícies comerciais.

Lembrei-me então daquele tempo em que estava quase tudo fechado ao domingo.

Sim, é verdade, eu sou desse tempo…

Durante a semana havia as obrigações do trabalho para os pais e da escola para os miúdos.

O sábado era o dia das compras e das limpezas da casa.

E o domingo era o dia em que a família estava toda reunida.

 

Ao domingo podíamos acordar mais tarde, passear e visitar amigos. Na casa dos meus pais, o almoço de domingo era sempre especial e com direito a sobremesa. Tudo maravilhosamente confecionado pela minha mãe, emanando cheiros que ainda hoje me fazem crescer água na boca só de os recordar.

Era o único dia em que eu e os meus irmãos podíamos entregar-nos afincadamente ao processo de preparação de um café Mokambo. Primeiro o pó, depois o açúcar e uma pinga de água quente. Seguia-se a mistura, o mais depressa que conseguíssemos, para envolver tudo e fazer espuma. A qualidade do café que preparávamos era determinada pelas características da espuma: tinha de ser cremosa, de cor clara e cobrir toda a superfície da chávena. 

 

Atualmente vivemos uma realidade oposta. Há inúmeras profissões exercidas 7 dias por semana, frequentemente em turnos distribuídos ao longo das 24 horas do dia. Folga-se um domingo ou dois por mês, há um fim de semana completo ocasionalmente e o dia de Natal é muitas vezes celebrado com os colegas e não com a família. Quem diz o Natal, diz o Dia de Ano Novo, a Páscoa, o Dia da Mãe que se celebra sempre no primeiro domingo de maio…

 

Os tempos mudaram. Toda a gente deseja ter o que precisa à sua disposição 24 horas por dia (ou quase). Dizem que isto aumentou o número de empregos disponíveis. Talvez… Mas que tipo de empregos, com que remuneração e a que custo para as famílias?

 

Não sei responder a estas perguntas, mas atrevo-me a afirmar que esse “consumismo desenfreado“ extinguiu o dia da família…

 

Sinto uma ponta de saudosismo. Ainda que saiba que a  globalização e a tecnologia nos facilitaram muito a vida, lamento que os meus filhos, e todas as gerações mais jovens, não tenham podido desfrutar de mais momentos destes, tranquilamente em família, um dia por semana e sem um ecrã â frente.

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