Lágrimas de chuva
Pelas vidraças da minha janela
Vejo a chuva a cair
As lágrimas do céu
Das almas que por nós choram
Enquanto assistem
Impotentes
À nossa autodestruição.
E por entre as gotas da chuva
Que vejo lá fora
Correm as lágrimas que não verto
Quando sofro eu
Ou sofre este mundo
Que nos acolhe no seu abraço
Enquanto, lentamente
O destruímos.
Enquanto escorre, estrada abaixo
Esta chuva benfazeja
Vai limpando as ruas
Matando a sede às flores
Alimentando, ainda, o ciclo da vida
Que recomeça a cada primavera.
Deixo-me estar a observá-la
Pelas vidraças da minha janela
Vendo-a cair constante, persistente
Embalando-me na sua cantiga
Antiga canção de embalar
Tranquilizante
Reconfortante
Que me apazigua a alma.
Março de 2018