Nasceu no Dia de Reis
Era o dia do seu aniversário.
Ou seria Dia de Reis?
Os dois eventos acabavam sempre por ser misturar promiscuamente, contra a sua vontade, e não havia nada a fazer.
Ainda só contava 23 anos de vida e já estava cansada da exclamação “que engraçado, fazes anos no Dia de Reis!”.
Não tinha graça nenhuma! Toda a vida teria de partilhar o SEU dia com três supostos reis mundialmente conhecidos que lhe roubavam todo o protagonismo possível no dia do seu próprio aniversário.
Também costumavam dizer-lhe que seria pior se fosse espanhola, pois receberia apenas um presente que valeria pelo Natal e pelo aniversário. Ao menos em Portugal sempre recebia dois presentes e faziam-se duas festas.
Contudo, continuava a ser mais o dia do fim do Natal do que o dia de começo de mais um ano da sua jovem existência. Além disso, a 6 de janeiro já estava toda a gente farta de comer e cansada de celebrar, pelo que a sua festa era sempre modesta em pessoas e iguarias.
E por muito que antecipasse a surpresa do SEU bolo, já sabia que seria, quase de certeza, um bolo-rei acrescido de velinhas e sparklers a faiscar… Era uma sorte gostar de bolo-rei…
Apesar de tudo, restava-lhe uma consolação.
Era ela quem encerrava “as festas”. No SEU dia de aniversário dizia-se “adeus, até para o ano” a mais um Natal. Desmanchava-se a árvore e arrumavam-se as luzes.
Sentia-se como se tivesse derrotado o Natal ao encaixotar os Reis Magos e o resto do presépio. Era uma questão de honra fazê-lo logo a seguir ao jantar.
No final do dia do seu aniversário, a protagonista era sempre ela e SÓ ela!
Grata, Isabel Silva, por me motivares a escrever. Sem o teu "empurrão" para Os nossos contos de Natal 2021, esta pequena história não teria nascido,