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Um pássaro sem poiso

Palavras soltas, livres, voando por aí

Um pássaro sem poiso

Palavras soltas, livres, voando por aí

22.12.23

O relógio


Isa Nascimento

Um dia, o relógio parou.

Estava cansado.

Tantos dias havia contado

Que já lhes tinha perdido a conta,

E nunca o tempo

Por ali havia parado.

Passara sempre fugaz, em silêncio,

Esgueirando-se logo de seguida,

Calado.

 

Sempre quisera conhecer o tempo.

Contava os segundos que corriam,

Reunindo os minutos mais serenos

Para então construir as horas,

Vagarosas nalguns dias,

Noutros fugidias,

Sem nunca perder nenhuma.

Era importante esse rigor

Para que o tempo passasse certo.

 

Lá no alto, o relógio laborara,

Atento, tomando conta do tempo.

Somara dias às semanas,

Adicionara meses aos anos,

Vendo as flores desabrochar na primavera,

O verão cheio de crianças no jardim,

As aves que partiam no outono

E a neve que chegava no inverno.

As estações sucediam-se,

Ano após ano, mas nunca se distraíra.

Existia para contar o tempo,

E era essencial contá-lo bem.

 

Mas era inútil, pensou o relógio

Naquele dia em que parou.

O tempo nunca pararia por ali.

Passaria eternamente

Sem se deter por um momento,

Pois, para isso o tempo

Nunca teria tempo

E o dele havia esgotado.

 

Fevereiro de 2021

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