Primavera
Sentei-me na chapa quente
dos degraus das escadas das traseiras.
Cheio de vigor, o sol exuberante
aparecia por cima dos telhados
ao som do sino que tocava as dez badaladas.
Num quintal ao lado,
uma árvore vestida de branco
mostrava-se orgulhosamente pura
no meio de um matagal de ervas daninhas
que reclamavam todo o espaço para si.
Logo ao lado, o cão do pátio ladrilhado
agitava-se inquieto, pedindo para sair.
Largava toda a sua energia contida
ladrando ao avião que passava,
sem conseguir calar-se
nem quando o silêncio ao céu regressava.
Depois dos dias de chuva inebriante,
que deixara a natureza viçosa e fresca,
pronta para receber mais uma primavera,
o musgo trepava pelas paredes
e a nespereira alcançava um pouco mais.
Tanto verde havia em meu redor,
refletindo os raios do sol caloroso
que abraçava o dia e as escadarias,
também elas verdes como a esperança
impregnada naquela árvore florida,
que recomeçava o ciclo da vida.
Fevereiro de 2021