Quisera eu
Gostava de não me sentir assim
Comecei até a arrumar o guarda-fatos
Retirando tudo o que de velho havia
Para deitar fora,
Dar, doar, livrar-me do passado
Personificado nos objetos
Que amontoei na minha cama
Acreditando que com eles
Iriam também as mágoas
Que o nó na garganta
Se desataria
E eu conseguiria por fim
Respirar profundamente,
Aliviada, livre
Liberta da saudade
Da desilusão da espera vã.
Mas nada mais levavam consigo
Para além do pó.
Peças usadas, marcadas pelo tempo
Que chegavam ao fim da sua vida
Com o destino traçado no lixo.
Quisera eu ir com elas
Já que as minhas penas teimavam em não ir.
Agosto de 2017