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Um pássaro sem poiso

Palavras soltas, livres, voando por aí

Um pássaro sem poiso

Palavras soltas, livres, voando por aí

03.11.19

Um dia, se eu chegar aos 87 anos...


Isa Nascimento

Ontem conheci a D. Gertrudinha. Ou algo parecido, não percebi bem, porque a D. Gertrudinha é uma simpática senhora idosa, cujo “papá” era espanhol, mas a “mamã” era portuguesa. Do Algarve, pelo que percebi. Sentou-se ao meu lado ao almoço, numa mesa no El Corte Inglés, e de imediato começou a conversar. Meteu-se com o meu cabelo, que me tapava a cara e me escondia. E eu aceitei a conversa. Perguntei-lhe de onde era, pois tinha uma pronúncia espanhola… Ficou admirada, diz que não costumam reparar que tem uma costela estrangeira e daí começou a contar a sua história. Como foi feliz no casamento durante mais de 30 anos até a sua sogra, que ainda hoje estima muito, falecer. Um dia depois do funeral, o seu marido saiu de casa. Parece que tinha uma amante durante os períodos em que ela ia ao Algarve ver a mãe. A desilusão foi tão grande que nunca mais quis nenhum homem na sua vida. Tinha pouco mais de 50 anos e não tinha filhos. A vida não lhos deu. Teve alguns pretendentes, mas optou por ficar sozinha, até hoje, com 87 anos.

Mas gostava que vissem a D. Gertrudinha. Como ela ainda tem gosto em se vestir e maquilhar bem. Como a sua lucidez lhe permite manter um discurso coerente e fluido. Só se queixa porque já vê mal e precisa de uma muleta para andar. Se eu soubesse desenhar, faria o seu retrato para partilhar convosco. Assim guardo-a na memória, só para mim. Porque, um dia, se eu chegar aos 87 anos, gostava de ser como a D. Gertrudinha.

Em honra da minha querida mãe 

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